terça-feira, 4 de setembro de 2007

Rick Rubin: o homem da música

SLAYER, LINKIN PARK, JOHNNY CASH, AUDIOSLAVE, NEIL DIAMOND... não, este não é um “quem-é-quem” na história do rock mundial. Esses são apenas os nomes com quem o produtor Rick Rubin trabalhou nos últimos anos. Lynn Hirschberg, jornalista do periódico estadunidense The New York Times, publicou um artigo neste domingo, 2 de setembro, em que dissecou a vida de Rubin, contando detalhes de artistas com quem já trabalhou, futuro da indústria fonográfica, entre muitos outros assuntos. Confira os principais excertos do artigo logo a seguir:

Rick Rubin está ouvindo. Uma faixa de uma nova banda chamada Gossip, e está concentrado. Parece estar em transe. Ele se move ao som da batida, tentando descobrir o que está certo e o que está errado com a música. Rubin, que lembra um urso de médio porte com uma longa barba grisalha, está na biblioteca de uma casa que ainda é sua, mas onde não vive mais. Esta velha casa espanhola de 1923 — em que Johnny Cash gravou no estúdio do porão e Jakob Dylan está gravando um álbum solo agora — é usado por Rubin para suas reuniões e encontros. E desde maio, quando se tornou o segundo manda-chuva da Columbia Records, Rubin manteve-se em constantes encontros. No início de 1984, quando começou com a Def Jam Recording, até sua mais recente ocupação como um ‘transformador-de-carreiras’, vencedor de Grammy, produtor de uma dezena de artistas díspares como SLAYER, DIXIE CHICKS, RED HOT CHILI PEPPERS e NEIL DIAMOND, Rubin, que está com 44 anos, nunca foi a um escritório seja ele qual for. Uma de suas condições para pegar o trabalho na Sony, que comprou a Columbia, era a de que não seria cobrado por telefones, mesas ou qualquer acessórios de empresa. E isso não foi um problema: a Columbia não queria que Rubin socasse um relógio. Queriam que ele salvasse a empresa. E talvez a indústria musical.

O que significa, mais do que tudo, é que a empresa quer que ele ouça. A Columbia acredita que Rubin ouvirá as respostas na música — que ele encontrará a solução para os seus crescentes problemas, que a música está em queda livre — que o rádio perdeu o controle, as vendas na Tower Records acabaram, a MTV raramente transmite videoclipes, e o outrora lucrativo mercado de álbuns foi afundado pelo download de singles, que beneficia sobretudo a Apple. “A indústria musical, como um todo, perdeu sua fé em tudo”, sentenciou a mim recentemente o lendário David Geffen. “Há apenas dez anos, as companhias queriam fazer música, possivelmente bons álbuns, e ver se isso vendia. “Mas o pânico se instalou, e agora o negócio não é mais fazer boa música, e sim como vender música. E não há uma resposta clara em como consertar o problema. Mas ainda acredito que a prioridade de quaisquer gravadoras é aparecer com música boa. E por essa razão, a Sony foi muita astuta ao escolher Rubin”, reiterou.

(...)
Ele também procura por melodia. Quando garoto, cresceu em Lido Beach, em Long Island, Nova Iorque, e Rubin amava os BEATLES. “Nunca gostei dos STONES”, diz. “Entretanto, amava o MONKEYS, eles tinham os melhores compositores”. Pela sua paixão pelos BEATLES, tornou-se fascinado por poder de sedução da música. Os primeiros trabalhos hip-hop que produziu foram L L COOL e BEASTIE BOYS, sempre insistiu na estrutura clássica da música. “Antes da Def Jam Records, os álbuns de hip hop eram longuíssimos, e raramente tinham pegada”, e continua. “Essas músicas não se entregavam como o BEATIE BOYS. Para fazer com que os álbuns de rap soassem mais pop, mudamos a forma. E assim vendemos muitos álbuns”. E “Licensed To Ill” (lançado em 1986) vendeu mais de quatro milhões de cópias, e no início daquele ano, “Walk This Way”, que mesclava o AEROSMITH com RUN-D.M.C. foi o primeiro single de rap e revitalizou a carreira do AEROSMITH.

Não importa se ele concorda em produzir um álbum, Rubin só entra em estúdio antes de analisar detalhadamente cada música. Atualmente, Rubin está cuidando do METALLICA, a banda nerd de power pop WEEZER (é parte de seu acordo com a Columbia que ele pode produzir bandas que não fazem parte do cast da gravadora) e o lendário NEIL DIAMOND. No momento, o METALLICA está em turnê pela Europa, o WEEZER está compondo músicas novas e NEIL DIAMOND acaba de entrar no estúdio. Rubin trabalha devagar — ele pode levar anos para finalizar um álbum. “Muito disso por conta das músicas”, explica. “Tento persuadir o artista a escrever músicas para décadas e não para apenas um álbum. Assim que eles compõem, chegam até mim e tocam as músicas. Por alguma razão, a maior parte deles compõe dez músicas e pensam ‘isso é o suficiente para um álbum, está pronto’. E quando eles tocam as músicas para mim, invariavelmente as duas últimas serão as melhores. Eu lhes digo: ‘vocês têm duas músicas, voltem e componham mais oito’”.

Suas respostas são instantâneas, específicas e definitivamente construtivas. “Ele sequer pega as notas”, lembra Natalie Maines. “Ele escuta tudo com seus olhos fechados, pressiona o ‘pause’ e diz: ‘você precisa de outro refrão’ ou ‘aqui não há uma ponte suficiente’. Ele é preciso e você volta ao trabalho. No início das sessões com o METALLICA, Rubin discutia sobre diferente sons da bateria. “Lars [Ulrich, baterista do grupo] tocará duas coisas para mim, e eu direi ‘esta aqui é ótima, mas esta outra é terrível’”, lembra Rubin. “E Lars responderá: ‘Como você sabe? Ambas soam bem para mim’. Bem, eu apenas sei. O som correto chega às suas mãos e encontra seu caminho. Muito do que eu faço é estar presente para ouvir o som correto”.

(...)
”Não quero fazer a decisão errada”, continua Rubin. “A coisa mais importante que temos de fazer agora é encontrar a arte correta. E muitas das decisões das gravadoras por aí não são sobre música. Elas assinam com os artistas pelas razões erradas — porque eles pensam que alguém os quer. Esse jeito antigo de se fazer as coisas está obsoleto, mas com sorte, este medo está deixando as gravadoras menos arrogantes. Elas estão mais abertas às idéias. Então, o mais importante agora é encontrar música em pouco tempo. Ainda acredito que se um artista ganha a atenção do ouvinte, então tudo é possível”.

(...)
De diversos modos, a fase de JHONNY CASH na vida de Rubin durou dez anos e produziu cinco álbuns e encobriu todas suas outras habilidades. Rubin trabalhou efusivamente com outros artistas antes. Quando ele produziu o RED HOT CHILI PEPPERS em 1991, ajudou a reinventar o som do grupo, persuadindo-os a incorporar mais melodia dar um segmento mais lírico em suas composições. O CHILI PEPPERS então definiu o seu som — uma infusão de rap e funk — e Rubin imaginou uma qualidade diferente. “Meu trabalho era quebrar esses limites”, explica. “Nenhuma banda tem que se enfiar em uma caixa. Eu via o CHILI PEPPERS como se fossem um BEASTIE BOYS em diversos aspectos. Eles representavam Los Angeles, o lugar dos sonhos”. Anthony Kiedis, o vocalista, mostrou a Rubin algumas notas e letras suas, e o produtor prestou muita atenção em um poema chamado “Under the Bridge”, que falava de drogas e alienação. Ele então persuadiu Kiedis a escrever uma música com esse poema, o que acabou resultando em um dos maiores hits da banda.

Rubin instalou o CHILI PEPPERS em uma mansão em Hollywood Hills, cujos rumores davam conta que pertenceu a Harry Houdini [N. do T.: um dos maiores mágicos dos Estados Unidos, que morreu durante uma de suas apresentações]. A casa, na verdade, não foi de Houdini, mas tinha diversas passagens secretas, e os rumores sobre o mágico acabaram crescendo. Um estúdio foi construído lá, Rubin e o grupo mudaram-se para lá, tendo o produtor como chefe. Como sempre faz, Rubin foi até eles e disse: “Não sei como trabalhar em uma mesa de som. Não sei apertar botões. Não tenho habilidades técnicas ou o quer que seja”, ele disse. “Mas estou lá quando eles precisam de mim. Minha principal qualidade é saber quando gosto de algo ou não. Não estou lá para segurar a mão deles como babás, mas estarei lá para quaisquer questões criativas”.

Para ler o artigo na íntegra, clique aqui.
Powered By Blogger